O LADRAR DO MERDOCK

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(em cima)


Não se assustem com o ladrar do Merdock.
Ele só embirra com polícias, guardas fiscais,
guardas republicanos e outras fardas!...



quarta-feira, 30 de maio de 2007

P H O T O M A T O N

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O MERDOCK FOTOGRADO EM DIVERSAS POSES
À LA MINUTE

domingo, 27 de maio de 2007

OS NOMES E OS NÚMEROS

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A subscrição em favor do Merdock encheu três páginas de folhas de papel de 35 linhas mas, infelizmente, a última perdeu-se para sempre.
Delas constam os nomes (ou as assinaturas) daqueles que aderiram à iniciativa, e os respectivos óbulos.
De notar que todos os nomes eram de alunos, havendo apenas um professor, o Dr. Fortes, de Ginástica, e um nome de alguém que nada tinha a ver com o Liceu: o sr. Marmota, encarregado das instalações da sede da Mocidade Portuguesa, na cidade de Faro!
No entanto, creio que pelo menos o Dr. Magalhães e o Dr. Agostinho aderiram à iniciativa. Provavelmente, os seus nomes constavam da terceira folha, que não chegou aos nossos dias. Seria interessante saber. Tanto mais que o assunto terá sido discutido na sala dos professores, entre os que apoiavam a ideia e os que rejeitavam.
Alguns professores do Liceu eram associados do Círculo Cultural do Algarve, sedeado em Faro e, bem se sabe que muitos deles eram fervorosos opositores ao Regime. Outros, pelo contrário, eram salazaristas ou, mesmo, filiados na União Nacional.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

CRÓNICA

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“Moços e Moças do Algarve, estudantes nos Anos 50”

Na sequência de outras crónicas, nomeadamente “As Três Flores de Amendoeira”, já publicadas, para a Galeria VIP, continuam a perfilar-se estórias deveras interessantes... Um dos estudantes elegíveis, foi aluno na Escola Comercial Tomás Cabreira.
Era um rapaz notoriamente sobredotado, oriundo de local próximo de Faro, que se deslocava diariamente para esta escola, onde se distinguia por ser diferente para melhor e por, nas aulas, prestar muita atenção aos ensinamentos ministrados.
Segundo diziam os liceais, estávamos, então, na época do Merdock, mais tarde apodada de Era.
Para quem não saiba, nesse tempo, ainda se falava no Reino do Algarve, sendo de referir que, desde há muito existiam cinco cidades, Faro incluída, quase todas relativamente próximas da orla marítima e, ainda, duas faixas orologicamente distintas vulgarmente denominadas como “barrocal” e “serra”. Daí vinham bastantes moças e moços interessados em melhorar o seu estatuto e cultura, abrindo novos horizontes para o seu futuro através da Escola ou do Liceu.
Alguns pelo seu valor e por mérito pessoal, granjearam lugar destacado na história do Algarve e até mesmo de Portugal.
Ainda se mencionava “o Reino”, porque no decreto que em 1910 proclamou e deu a conhecer a implantação da República, não foi referido o Algarve, mas também porque a moeda régia, até então cunhada, exibia explicitamente Rei de Portugal e dos Algarves (conceito que incluía esta região de beleza cativante e mais uns territórios conquistados à moirama).
Quanto ao rapaz, constava nesse tempo na Tomás Cabreira que, com aquele nível intelectual, postura jovial de lutador imparável e excelente aproveitamento nas aulas ministradas, quando fosse grande, poderia vir a ser Professor ou até Ministro e tornar-se por, mérito próprio, elegível a Presidente do Conselho de Ministros (designação usada nos anos 50) ou alcandorar-se a estatuto ainda mais prestigiante. E, este colega, quando elogiado, sorria com um ar enigmático mas intensamente premonitório.

Autor: Beto de Estoi

P.S. – Como é de bom tom, o nome deste ex-aluno da Tomás Cabreira, só poderá ser revelado mediante autorização.

terça-feira, 15 de maio de 2007

O CESTO, OU A INTELIGÊNCIA ANIMAL



Hoje apetece-me homenagear um cachorro que eu tive, quando
era garoto.
Sosseguem!…
Isto é uma história avulsa. O Fiel certamente não tinha qualquer parentesco com o Merdock, embora também fosse perdigueiro atravessado!
O Fiel era um cão sisudo, muito inteligente e prestável, que fazia jus à sua condição de “o melhor amigo do homem”.

Tinha um ar quase senhorial, talvez por se achar superior a outros, esgrouviados, tontos, embora simpáticos, que também tive.
Exercia as suas funções com primor e elegância, sem espavento.
Vi-lhe fazer muita coisa gira, mas hei-de relembrar sempre o dia em que dei com ele a bater à porta de nossa casa, levantando com a pata o batente em ferro.
Acontece que trazia um cesto na boca e o poisara no poial.

O cesto servia para trazer as mercas, que a empregada lhe confiara,
à saída do mercado!
E embora, depois, a rapariguita tivesse dito que não era a primeira vez que tal sucedia, nunca hei-de esquecer aquela cena que eu vi.
Com estes que a terra há-de comer!

Não é caso único, antes pelo contrário. Tenho conhecimento de outros cachorros que fazem proezas idênticas.

Mas… me desculpem… Diziam lá em casa… que tínhamos nascido ambos no mesmo dia!

sexta-feira, 11 de maio de 2007

AS ORIGENS DO MERDOCK (2)

Conclue a postagem anterior

Chegara à cidade, quase sem o saber, apenas na ânsia de desvendar um caminho novo, por onde nunca fora; e com que nunca ao menos ousara sonhar. Entrara no desconhecido. E pensou, de tudo quanto via, que talvez aí viesse a ter uma vida mais desenfastiante do que a que sabia lhe estar destinada, no monte onde nascera. A velha mãe mostrava-se cansada, seria ele a tomar o seu lugar, quando ela não prestasse para nada.
Não é que se sentisse subalternizado, ou menosprezado. Sentia-lhe ainda o mesmo afecto, de quando o despertara as primeiras realidades da vida. Mas antevia um futuro igual ao dela, sem mistério e sem glória, sempre igual, pelos dias e pelas noites.
A única coisa que sempre o transcendia em alegria e emoção, eram os dias caça. Aí sentia a plenitude da existência, uma razão forte para a vida, um inexcedível júbilo.
Mas, infelizmente, esses dias de euforia e alvoroço eram poucos, cada vez mais raros, à medida que o patrão, ele próprio, caminhava também, como a mãe, para a decrepitude.
Por isso se aventurara a ver se via como seriam outros lugares e outras gentes, porventura outras balbúrdias ainda mais avassaladoras do que os dias de caça, com a mãe e o dono, por montes e vales.
No entanto, às portas da cidade, pensou que não teria condições para ficar por ali. De resto, não conhecia ninguém e, na verdade, dos que por ali andavam, nenhum lhe prestou a mínima atenção.
Ia voltar para trás, pelo mesmo caminho por onde viera, quando, de repente, começou a ouvir qualquer coisa, uns sons que nunca tinha ouvido, vindos duma rua lateral. Instintivamente dobrou a esquina e deu com um rapaz a esfregar os beiços por uma espécie de tubo, donde pareciam sair aqueles sons. Sentiu-se maravilhado. Tudo quanto até ali ouvira, eram os assobios do vento, o estrepitar das águas pela levada que vinha do tanque, o rumorejar das árvores, o cacarejar monótono das galinhas ou de algum pintassilgo trinando no silvedo, ou nas romãzeiras.
O rapaz tocava uma música dolente, eivada de entoações profundas, com requebros de emoção e afecto. Era um fado do Carlos Ramos, muito em voga, nesses tempos:

...
Não venhas tarde
...diz-me ela com carinho

Sentiu-se quase entristecer, o coração a bater de emoção. Mas também sentia os olhos a se revigorarem de alvoroço e agitação. Como era diferente, a vida, naqueles lugares!
Foi então que o rapaz se pôs a soprar uns sons muito diferentes, joviais, prazenteiros, que lhe davam vontade de os repetir com ele, e com ele comungar da mesma alegria.

...
Cantiga da rua
...nem minha nem tua
...não é de ninguém…

As dúvidas dissiparam-se-lhe.
Talvez assim, pudesse alcançar os pássaros e voar com eles, pelos céus.

Decidiu ficar.

domingo, 6 de maio de 2007

AS ORIGENS DO MERDOCK


Diziam uns moços que às vezes apareciam junto ao Liceu, que o Merdock era seu conterrâneo. Segundo eles, o cachorro teria sido nascido e criado nas Campinas, filho de mãe perdigueira e pai incógnito, provavelmente rafeiro – a avaliar pelas características físicas que o filho patenteava.
Foi a progenitora quem lhe ministrou a instrução primária, as primeiras letras, por assim dizer. Extremosa mãe, como todas as mães, ensinou-o a coçar-se e a ganir, a estar sempre atento e a esquivar-se, a ronar e a latir (mais tarde, a ladrar, mas só quando fosse necessário…) e a caçar.
A tenra infância do canito foi igual à de tantos outros – sem grandes sobressaltos, nem grandes mistérios. Apenas o que a Mãe Natureza vai trazendo todos os dias, aos jovens. Conheceu os animais domésticos e os répteis, aprendeu a distinguir os insectos inócuos, dos irritantes, maçadores, e invejou os pássaros. Várias tentativas fez para alcançá-los, procurando erguer-se nos ares, até ao céu que não entendia bem, tanto alegre e fagueiro, quanto brumoso e triste.
Ainda muito novo, se viu confrontado com a fatalidade da despedida, apercebendo-se de que todos os irmãos tinham partido para outros lugares, outras vidas, outras lides.
E ficou só, com a mãe. Não percebeu porquê, mas – aventamos nós –, talvez o camponês seu patrão, desde logo tivesse visto nele o melhor sucessor para a cadela, já a caminho da irredutível velhice.
Um dia, já crescidote, aventurou-se por uma estrada por onde via seguirem carros de besta, gente montada em mulas ou burros, ou a pé, e que sempre reapareciam pelo mesmo caminho poeirento e cheio de pedras, algum tempo depois. Onde iam? E o que é que lá iam buscar, ou fazer?
Andou um bom bocado, até ver desaparecer o monte onde nascera. E embora com algum temor pelo singular percurso, que lhe trazia curiosas mudanças ao habitual dos dias, continuou a sua caminhada. Não sabia por onde ia, muito menos para onde ia. Mas havia qualquer coisa secreta que o fazia avançar, à descoberta de não sabia quê.
O fim de muito caminhar, chegou às portas da cidade.
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(continua na próxima postagem)
Merdock era um cão singular
e deu origem, em Faro,
a uma extraordinária
manifestação de solidariedade
que culminou na sua libertação.
Aqui se relembram
os factos e as personagens
envolvidas.
Veja também o meu blog de poesia