O LADRAR DO MERDOCK

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Não se assustem com o ladrar do Merdock.
Ele só embirra com polícias, guardas fiscais,
guardas republicanos e outras fardas!...



sábado, 20 de fevereiro de 2010

OS RIDÍCULOS

...


(ANOS 50)

OS ANOS DO MERDOCK


Como se sabe, nos duros tempos do Fascismo, em Portugal, o Estado Novo exercia um grande controlo sobre a Imprensa. Só a jornais humorísticos como o que mostramos (e o Sempre Fixe), era tolerada alguma crítica que envolvesse a situação política, económica, laboral, ou cultural. Esse controlo estava a cargo da Comissão de Censura, supervisionada pela polícia política do estado, a famigerada PIDE.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

NEVE EM TODO O ALGARVE

Neve em Faro


Estávamos nos últimos dias de Janeiro de 1954, fazia um frio de “rachar”. Na subida para o Liceu, avenida a cima, enrolávamos o corpo nos casacos, abotoados até ao pescoço. Da boca saia “fumo” branco e o nariz gelava.
Para nós, jovens, era divertido transformar em brincadeira o rigor da invernia.
- Vamos todos a fumar para o Liceu!!!...
- O que dirá o reitor???...
Eu andava na explicação da Brites, que morava no Alto Rodes, para onde ia, de tarde, depois das aulas.
No dia 2 de Fevereiro, pela manhã, o frio era fora da normalidade, nem conseguíamos escrever, tão geladas tínhamos as mãos.
À tarde, quando saio da explicação, olho a rua e vejo-a toda branca e flocos a caírem do céu.
Era inédito, nunca tinha visto coisa igual, só no cinema…
É necessário salientar que na época, estudávamos a formação de neve, granizo, nevoeiros e outras coisas mais, mas tudo era teórico e as gravuras dos livros eram escassas e a preto e branco.
Entro de novo, vou até à sala das explicações e digo:
- D. Brites, parece que está a cair neve!!!...
- És parva ou quê? Neve? Impossível!!!...
Vou de novo para a porta da rua e fico extasiada com o espectáculo… Seria mesmo parva? Não queria arriscar outro adjectivo menos favorável…
Aguardei mais tempo, numa correcta observação, em pormenor, pus a mão de fora a aparar o que caia do céu, pus o pé no chão calcando o manto branco, abri os braços, já na rua, olhando o céu… Flocos de neve caiam-me no rosto, no corpo encasacado, entro de novo em casa e digo:
- Venham ver!!!
A D. Brites, que tinha a filhita pequena ao colo, sentada numa cadeira baixa, quase joga a moça ao chão e corre pelo corredor da casa, em direcção à rua. Atrás dela todos os explicandos, em procissão descompassada.
- Oh! Oh! Incrível!!...
Nenhum dos presentes tinha visto neve, nem os vizinhos, que já se tinham apercebido de algo extraordinário, e apareciam às portas, todos de “boca aberta”.
Começámos logo na brincadeira, raspando o chão com as mãos, fazendo bolas e jogando uns aos outros.
Finalmente, arranquei para casa, e no Largo do Carmo encontro a mãe que me ia buscar, ao ver a minha demora.
O piso estava tão escorregadio, que nos tínhamos de agarrar uma à outra. Foi uma risada até casa. A neve continuava caindo e até parecia, que o frio tinha quebrado.
O polícia sinaleiro, que estava de serviço na altura, era o Carlos, amigo da “pinga”, que tinha o hábito de dar escapadelas, até à tasca do Fontinhas, beber um copito. Na tasca, havia sempre, no balcão, um copo à sua espera. De fugida, no momento de menos trânsito, que ele controlava no Largo da Palmeira, ia até à tasca, emborcava o vinho sem respirar, e saia lambendo os beiços.
Nesse dia de Inverno, o sinaleiro Carlos cambaleava, no seu posto de trabalho, e pensámos que estaria “alegrote”.
Estávamos todos às portas de casa, divertidos, apreciando o espectáculo e reparando que o céu tinha uma tonalidade diferente do habitual, estava brilhante como prata…
A mãe presta mais atenção ao polícia, aproxima-se e pergunta-lhe se se sentia bem. O homem já não falava. Parado, no meio do largo, vestido com a farda de sinaleiro, coberto de neve, tinha gelado.
Trouxeram-no para minha casa, deram-lhe um copo de aguardente, limparam-lhe a neve, despiram-lhe o casaco dos galões, todo molhado e taparam-no com uma manta. A mãe telefonou para o posto e vieram buscá-lo.
No outro dia, a ida para o Liceu foi uma festa. A neve já não era fofa, era gelo escorregadio…
A meio da manhã, tínhamos, nesse dia, duas horas seguidas de aulas com a D. Loide Chumbo, Português e Francês. Ninguém conseguia concentrar-se nos trabalhos e menos ainda com esta professora, que não conseguia dominar as turmas.
Estávamos de pé, numa algazarra ensurdecedora e gritávamos às janelas da sala de aula.
Então, a Adelaide Costa, sai da sala sem que a professora se aperceba e regressa batendo à porta, com insistência. Silêncio absoluto, será o reitor, fizemos tanto barulho…
- D. Loide, há autorização para irmos brincar na neve, na rua – diz a Adelaide.
Ninguém soube o que disse a D. Loide. Saímos de roldão, corremos pelo corredor, descemos as escadas e saímos para a rua.
Foi um espaço de tempo maravilhoso… até aparecer o senhor Sortibão, muito enrascado a falar com a professora.
Voltámos para dentro e a D. Loide, levada pelo contínuo, foi directa à reitoria.
Sabemos, que ela andou “murcha” durante uns tempos…
Sabemos, que todo o Liceu sofreu de inveja, da turma feminina, que saíra à rua a brincar na neve…

Lina Vedes - 25 Janeiro 2008

Merdock era um cão singular
e deu origem, em Faro,
a uma extraordinária
manifestação de solidariedade
que culminou na sua libertação.
Aqui se relembram
os factos e as personagens
envolvidas.
Veja também o meu blog de poesia