O LADRAR DO MERDOCK

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Não se assustem com o ladrar do Merdock.
Ele só embirra com polícias, guardas fiscais,
guardas republicanos e outras fardas!...



domingo, 23 de maio de 2010

ALEGORIAS PARA QUÊ?


OPINIÃO (1)
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Embora não tenha sido aluno no liceu de Faro, nos últimos anos e na qualidade de sociólogo, dediquei tempo de estudo ao fenómeno q.b. Merdock e ao acto da sua libertação, precedida dos ingredentes determinantes da gesta estudantil. No subentendido fica que, a "geração espontânea" não é, normalmente, consequência da espontaneidade e tem sempre um justificativo geracional.
Defendi a tese Merdockiana num recente "fórum" em que participei, realizado na Biblioteca Municipal de Faro localizada onde, em tempos, se situava o canil do qual o Merdock foi libertado.
Esta conferência ocorreu aquando da comemoração do cinquentenário do memorável acto, tendo sido apresentado ao público a narrativa da saga do Merdock, "Merdock, um cão em Faro nos anos 50", da autoria de Vieira Calado.
Quer se goste ou não do que aconteceu em Fevereiro de 1954, de acordo com estudos preliminares, sendo prematuro na actual fase, ou mesmo excessivo, falar-se em Merdockologia, tratou-se de um fenómeno emergente, de natureza social, protagonizado por jovens liceais.
Tentar desvanecer ou obliterar a tendência libertadora desta acção, seria, no mínimo, uma investida redutora dessa mais valia Algarviana, que teve repercussões sentidas a nível Nacional, 20 anos depois, com o movimento do 25 de Abril, onde estiveram figuras liderantes originárias do Algarve.
Pelo princípio do contraditório, ainda hoje se fazem ouvir comentários de rua, que valem o que valem para quem os produz, tentando denegrir o quase-ícone Merdockiano ou até denegando a sua existência como símbolo da liberdade. E, isso afigura-se ser um grave atentado, em termos sociológicos.
Hélio

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A NOTA DE VINTE PAUS


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Nos tempos do Merdock (1953/54/55), a nota de vinte paus era a de maior circulação.
Uma refeição custava sete e quinhentos, ou nem isso.
Um bolo de arroz ou um pastel de nata, oito ou dez tostões.
Com vinte e nove tostões = dois mil e novecentos (réis) = dois escudos e noventa centavos, comprava-se um maço de cigarros (Três Vintes, Sporting, Português Suave, ou Paris, por exemplo).
Um bilhete de cinema ou circo, andaria pelos três ou quatro escudos.
Um copo de vinho, 5 tostões; uma caixa de fósforos, um cruzado (quatro tostões).
Dez tostões (um escudo) era o preço a pagar por um jornal diário (República, Diário de Notícias, Século, Diário de Lisboa, 1º de Janeiro…), ou por um selo de circulação nacional, e dez ou doze tostões, por um café. Entre os três e os oito tostões, um cálice de bagaço ou de medronho (conforme era bebido em tasca ou Café.).
Vinte paus dava para isto tudo e ainda sobrava dinheiro…
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* As licenças e a chapa de identidade a que o Merdock se viu obrigado (para ter direito a cidadania plena), custaram uns 6 paus. Este dinheiro foi pago com a subscrição feita entre alunos e professores, para libertá-lo da prisa. Ainda sobrou muito. Escusado será dizer que foi gasto pelos promotores da libertação (e alguns oportunistas que se colaram, mas nada tinham feito), em bagaços e medronhos!…  

domingo, 9 de maio de 2010



Na década que seguiu o pós-guerra, Portugal acrescentou um enorme atraso em relação a países para onde, em breve, iria começar uma forte emigração de mão d’obra não qualificada e indiferenciada. 
O país encontrava-se num calamitoso estado de míngua, em todas as suas vertentes: económica, social e cultural.
O grau de escolaridade dos portugueses era muito baixo. O analfabetismo reinava por todo o lado,
especialmente entre os rurais, os pescadores e os mais pobres das cidades e vilas.
O Algarve não fugia a esta regra. Havia apenas um liceu, em toda província, a ministrar o antigo 7º ano!
Esse último grau de ensino secundário era o único que dava acesso às poucas faculdades que o país tinha:
Lisboa, Porto e Coimbra.
Nos anos do Merdock, não seriam mais de cem, os alunos desse último ano do ensino secundário.
Mesmo contando os poucos colégios que havia na Província e os moços ou moças que, por uma qualquer razão pontual, faziam o ensino liceal noutras cidades do país, o número de licenciados
com que o Algarve contribuía para o total nacional, era reduzido. Mas, mesmo assim,
fácil é perceber a grande importância do Liceu de Faro, pelo menos a nível da Região.
Muitos desses ex-alunos, em breve iriam exercer cargos de revelo, professores, advogados, médicos, engenheiros, militares, potenciais políticos.
Os acontecimentos que rodearam o Merdock, tiveram origem nesse estabelecimento de ensino e, por certo, de uma maneira ou de outra, terão despertado algumas consciências.
Merdock era um cão singular
e deu origem, em Faro,
a uma extraordinária
manifestação de solidariedade
que culminou na sua libertação.
Aqui se relembram
os factos e as personagens
envolvidas.
Veja também o meu blog de poesia