O LADRAR DO MERDOCK

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(em cima)


Não se assustem com o ladrar do Merdock.
Ele só embirra com polícias, guardas fiscais,
guardas republicanos e outras fardas!...



quinta-feira, 29 de março de 2007

PEDAGOGIA

O FAZ-TUDO, A MARIAZINHA E O PENALTY

Fotografia original aqui

No ano em que o Merdock saiu da prisão, disputou-se a Taça Latinha.

Não foi entre os clubs campeões de futebol dos 4 países latinos, a famosa Taça Latina, mas sim um único embate entre os professores do então Liceu e os da Escola Tomás Cabreira.

O prélio teve lugar no Estádio de S. Luís perante ruidosa assistência - alunos dos dois estabelecimentos de ensino mais importantes de Faro. O Merdock, esteve lá, a apoiar, junto aos bifes (os do Liceu).

A fotografia que aqui se mostra (que eu já tinha visto algures, mas que não tinha no meu álbum pessoal), foi originariamente divulgada em blogs, pelo nosso estimado confrade Faro a Fundo, penso que na sequência dum outro post divulgado, no nosso também estimado confrade, A Defesa de Faro. Aí, era transcrita uma crónica, vinda num jornal da Província, há uns dois anos, onde era referido o livro"Merdock, um cão em Faro, nos anos 50".

Diz um habitual visitante do referido blog farense que o ponta esquerda é o Arame, e que o 3º a contar da esquerda é o Santo Antoninho. Posso acrescentar que o mais jovem, de bigode, o 2º da direita e em baixo é o Fortes, professor de ginástica. E diz-me o Brasão Gonçalves que também lá estão o Prudêncio, o Almodôvar e o Mena Vieira (guarda-redes).

Porém (sei eu) também actuou o Nascimento, que jogou na Académica juntamente com o Prudêncio (ambos backs), no tempo do Esquível que era guarda-redes.

E a propósito do Nascimento, um outro antigo aluno, o Zé Matias Batista, fez-me lembrar o seguinte:

O Nascimento levou as coisas a sério e começou a treinar, semanas antes do desafio. O treino era muito simples e era feito na própria sala de aulas. Chamava um aluno, por dia, dos que já sabia que nada sabiam e no fim do esticanço, perguntava-lhe o que escolhia, entre o faz-tudo, a mariazinha e o penalty.

O faz-tudo era o ponteiro, que servia para apontar para o quadro qualquer equação da física, ou números - e também para malhar na tola dos alunos desatentos ou desconhecedores das matérias; escusado será dizer, que ninguém escolhia esta alternativa.

A mariazinha era a caderneta. Se esse fosse o caso, então o professor sacava dum minúsculo lápis que sempre trazia atrás do lenço que se usava na algibeira do casaco e obrigava o aluno a escrever na própria caderneta “não percebo bóia disto”. E esta alternativa, como é óbvio, também a ninguém interessava.

Por fim o penalty. O Nascimento fazia uma circunferência com o giz, a imitar a marca dos 9 metros e 15, à porta da sala e abria a porta – a baliza (como até os espanhóis dizem). O aluno em causa colocava-se em cima da marca, como se fosse a bola. Nascimento arrancava do fundo da sala, em corrida, e dava um xuto no cu do aluno (que atravessava a porta - e era golo!...), saindo o aluno disparado para o corredor.

Este método pedagógico, porém, não acabou sem algum sobressalto, embora se saiba que o professor branqueava, de seguida, estas situações. O método era apenas dissuasor.

Um dia, ao marcar um penalty, vindo já o Nascimento em grande correria, prestes a rematar para o golo, eis que passa no corredor o Drº. Luís Afonso, o Arame. Parece que não se coziam bem, os dois. Nascimento fica com o pé no ar, Afonso olha circunspecto para a cena que se adivinhava e lá foi este excelente método pedagógico relegado para as calendas.

Senhora ministra: Não seria de retomar este método pedagógico?

sexta-feira, 23 de março de 2007

OS NOMES E OS NÚMEROS (2)


À cabeça, o "Bomba", já anteriormente referido. E que dizer do José Viegas Felipe e do Campinas, que deram 25 tostões cada um (!!!!!....), para libertar o cão?
Depois, o Vidal, para todos efeitos, o principal protagonista da saga do Merdock. Foi ele quem salvou o cão dos temíveis homens do laço, no Café Aliança. E foi aí, que, certamente, toda a história começou.
Mais abaixo pode ler-se o nome completo do Zé Rijo, infelizmente já falecido. Personagem única, boémio, contestatário assumido a tudo quanto fosse Estado Novo, Mocidade Portuguesa, Igreja, restrições à liberdade, ao livre pensar e suas múltiplas expressões artísticas ou simplesmente básicas, populares.
Conviveu durante anos com outros eméritos boémios, em Lisboa, para onde fora estudar arquitectura. Dormiu à corda, foi preso por mais de uma vez, pelo regime, era conhecido nos bares por sair dum, para entrar noutro, sempre com um copo na mão! Foi amigo de peito do Luiz Pacheco, escritor, cronista, um dos mais insignes licenciosos e desbragados do seu tempo, autor dos "Textos Malditos" e de "O Libertino Passeia por Braga", editor de Sade, crítico literário.
O Zé Rijo - a mais de cinquenta anos de distância, penso isto, com convicção -, não andou só por andar na manifestação, exigindo a libertação do Merdock. Ele, leitor de Sartre, Camus e outros filósofos modernos, anti-militarista, defensor de todas as liberdades cívicas e políticas, sexuais e laicas, terá sido um dos que, conscientemente, aderiu à ideia, para enfrentar e denegrir a autoridade do estado.
Mais abaixo estão os nomes do Palaré e do Picanço, dois entusiastas do Merdock, desde a primeira hora.
Me desculpem os outros, que também tiveram o seu papel em toda a estória, e para quem, o fluir desses acontecimentos empolgantes, terá resultado nalguma influência nas suas posteriores tomadas de posição. Mas os citados sempre foram conhecidos de todos, nesse tempo do antigo Liceu, nos anos do cão mais célebre de Faro.

sábado, 17 de março de 2007

CRÓNICA

Grupo Museológico Pró-Merdock, em Faro

Na qualidade de museólogo diplomado, residente no Algarve, vou iniciar contactos com o Provedor do Museu de Faro no sentido de vir a ser criado um pequeno "Núcleo Merdockológico", dado que já passaram 53 anos sobre o acontecimento Merdock e a memória dos actos pode ser desvanecida pelo tempo.
Para ilustrar, com factos históricos, passo a citar:
No tempo do obscurantismo, já os Romanos após vencer o inimigo, para apagar a "memória" da sua opressão e para impedir o renascimento da civilização aniquilada, derramavam SAL, simbólica e efectivamente, sobre as ruínas das habitações e templos dos povos que tinham o AZAR de ter sido subjugados, pelo poder absoluto de Roma.
Aconteceu em Cartago, no fim da 2ª (201 a.C.) e da 3ª (146 a.C.) Guerras Púnicas, tentando assim, os Romanos, branquear a sua relação dominadora sobre os Cartagineses.
Na actualidade, em Portugal, ocorreu um facto aparentemente insólito que, pela sua relevância, mereceu destaque nos jornais e foi objecto de ampla divulgação mediática.
Para quem esteve menos atento ou considera estes temas de somenos importância, passo a tentar descrever, da forma que me é possível, utilizando alguns regionalismos em discurso directo.
Numa santa terrinha, lá para os lados de Viseu, algo parecido com Sª.Tomba Cão (soa a nome fictício), um conjunto de agitadores, vindos sabe-se lá de onde e pagos sabe-se por quem, tentou impedir um movimento museológico.
Ouvi o clamor de uma santa senhora, de provecta idade com a sabedoria propiciada pelo tempo, e vou tentar reproduzir com aquele tom, de simplicidade e provincianismo, que caracteriza o nosso bom povo:
- Olhe que o xenhor doutor até estudou no xeminário e em Coimbra. Era um xanto homem!
- Prejunxão e água benta, cada um toma a que quer (e, talvez a propósito dos Cartagineses): - Cada povo tem o Xal e o Azar que merece.
- Largai o xenhor, não vá ele rexuxitar e haveis de ver o que vos acontece, malandros!... Porque não ides para as voxas terras?!... Malandros, trabalhai... ide…ide trabalhar! xeusch… z… z
E, mais não dixxe...
Imaginem o que poderá vir a acontecer, em Faro... aos adeptos do Merdock!

O Romano (museólogo)

quarta-feira, 14 de março de 2007

AS MULHERES E O MERDOCK

As fotografias são de antigas alunas do Liceu.
Quase todas têm netos e já lhes contaram
a história do Merdock.
Os miúdos, como se sabe,
têm sempre uma especial afeição por animais.
Por isso, que mais não fosse, contaram, eles próprios,
a história daquele cachorro, aos amigos.
Nas imagens foram identificadas
(da esquerda para o direita),
a Maria José, a Cristina, a Xica e a Raquel,
e em baixo, A Marília e a Celeste.
Na outra fotografia apenas dois nomes:
a Hermenegilda e a Diamantina.
Há por aí quem saiba identificar as restantes?
Deste grupo saíram professoras de diversos grupos,
incluindo o universitário, arquitectas, médicas,
engenheiras e, certamente,
excelentes esposas e donas de casa.
Especial relevo para a Xica Prudêncio,
uma das maiores fãs do Merdock, desde a primeira hora,
e que tem organizado almoços de confraternização
de antigos alunos.

Para quando o próximo?


quarta-feira, 7 de março de 2007

ALEGORIAS PARA QUÊ?


OPINIÃO (1)

Embora não tenha sido aluno no liceu de Faro, nos últimos anos e na qualidade de sociólogo, dediquei tempo de estudo ao fenómeno q.b. Merdock e ao acto da sua libertação, precedida dos ingredentes determinantes da gesta estudantil. No subentendido fica que, a "geração espontânea" não é, normalmente, consequência da espontaneidade e tem sempre um justificativo geracional.
Defendi a tese Merdockiana num recente "fórum" em que participei, realizado na Biblioteca Municipal de Faro localizada onde, em tempos, se situava o canil do qual o Merdock foi libertado.
Esta conferência ocorreu aquando da comemoração do cinquentenário do memorável acto, tendo sido apresentado ao público a narrativa da saga do Merdock, "Merdock, um cão em Faro nos anos 50", da autoria de Vieira Calado.
Quer se goste ou não do que aconteceu em Fevereiro de 1954, de acordo com estudos preliminares, sendo prematuro na actual fase, ou mesmo excessivo, falar-se em Merdockologia, tratou-se de um fenómeno emergente, de natureza social, protagonizado por jovens liceais.
Tentar desvanecer ou obliterar a tendência libertadora desta acção, seria, no mínimo, uma investida redutora dessa mais valia Algarviana, que teve repercussões sentidas a nível Nacional, 20 anos depois, com o movimento do 25 de Abril, onde estiveram figuras liderantes originárias do Algarve.
Pelo princípio do contraditório, ainda hoje se fazem ouvir comentários de rua, que valem o que valem para quem os produz, tentando denegrir o quase-ícone Merdockiano ou até denegando a sua existência como símbolo da liberdade. E, isso afigura-se ser um grave atentado, em termos sociológicos.

M. Kanne (proto-Merdockólogo)

quinta-feira, 1 de março de 2007

O NÚCLEO DURO


Os Nomes e os Números #2

A fotografia foi tirada em 1953.
É uma turma do 6º e aí estão dois dos alunos do núcleo duro
(como agora se diz), do acontecimento Merdock.
São eles: o Vidal e o Calado, devidamente assinalados.
Do professor (de Desenho) não me lembro o nome,

mas sim a alcunha pouco abonatória.
Mas o meu pudor não me permite revelá-la,
tanto mais que o homem, a esta hora,
muito provavelmente já por cá não anda.
O outro aluno também destacado é o Renato, o «Bomba»,

o primeiro a contribuir para o peditório em favor do Merdock,
com a quantia (quase sumptuosa) de 1 escudo,
já que que a maior parte dos donativos se cifrava pelos 5 tostões.
E é a seu respeito que relembro um episódios desses tempos.

O «Bomba» sentava-se na última mesa de desenho,
na sala de aulas.
A um dado momento, no meio dum grande silêncio
(com o duma catedral em dia de catástrofe…),
começou a ouvir-se o Renato a cantarolar baixinho
um fado muito em voga na altura:

Ai Moraria
da velha rua da Palma,
onde eu, um dia
deixei presa a minha alma…


Soaram uns risos abafados, outros mais ou menos intensos,
vindos de todo o lado.
Ao dar-se conta, o professor bateu com a palma da mão na mesa
e disse, parecendo bem-humorado:
«Silêncio… que a dona Amália está a cantar!»
e a seguir, sem mais aquelas, expulsou o «Bomba».
Quando ele ia a sair, foi a minha vez de intervir:

«Ó sôtor, então põe a Dona Amália na rua?»

Resultado: Fui prá rua também!


Merdock era um cão singular
e deu origem, em Faro,
a uma extraordinária
manifestação de solidariedade
que culminou na sua libertação.
Aqui se relembram
os factos e as personagens
envolvidas.
Veja também o meu blog de poesia