ATENÇÃO PESSOAL!
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As inscrições para o almoço
devem ser feitas antes do fim do mês.
Todos os contactos podem ser encontrados,
mais abaixo, neste blog.
- LINA!...Lina!... És tu… Reconheci-te, manténs os traços de antigamente… Sou o Bartolomeu, filho do António da aldeia das Pedreiras… de Messines… Lembras-te? Vim com os meus pais viver para Faro, para a rua Cruz das Mestras, uma casa do teu avô…
- Eh!!!... Há quantos anos!!... És o desaparecido. Abandonaste a tua família, nunca mais deste notícias…
- Tinha 18 anos, não me deixavam viver. Como está o Dinarte, o teu irmão, os teus pais? Senta-te, tenho a mesa na esplanada do Aliança.
- Realmente, a tua mãe exagerou.
Tens filhos, casaste, o que fazes?
- Estou muito bem, tão rico como um rei, tenho filhos e netos.
Olha, o táxi já está à minha espera, tenho de ir. Dá um abração a todos. Gostei de te ver…
- Eu adorei. Felicidades.
Como a vida é!!... Prega-nos cada partida…
Este primo, 2º ou 3º grau de parentesco, veio para Faro fazer exame de admissão ao Liceu, há quase 60 anos. Ele não queria estudar, era apaixonado pela mecânica. Montava e desmontava tudo o que apanhava, levando os pais ao desespero. A mãe, doméstica, impôs a vinda para Faro, para o seu filho único estudar, porque na aldeia não tinha hipóteses. Ambicionava, doentiamente, a promoção social, mesmo que fosse através do filho, que haveria de ser doutor.
Arrendaram as terras, vieram para a capital, o pai arranjou um carro de besta e começou a fazer fretes de transporte de mercadorias e mudanças de casa.
O Bartolomeu levou 5 anos para fazer o exame do 2º ano, com aprovação. Quando ingressou no 3º ano, a mãe sentenciou, que se reprovasse, iria trabalhar no duro, para aprender o quanto custa a vida e desejar voltar aos estudos. No final do 2º período, estava reprovado por faltas. Em Abril, com 17 anos, Bartolomeu vai trabalhar para as salinas do Neves Pires, com a recomendação da mãe, para o exporem às tarefas mais pesadas. Vestido com umas velhas calças arregaçadas, uma camisola de alças, uns sapatos de lona, um chapéu de palha e com uns grandes óculos escuros, ninguém o reconheceria… Por vergonha, deixou de passar pela R. de Santo António e ir a lugares de convívio, encontrar-se com colegas. Levava numa cestinha o almoço, ia logo pela manhã e regressava à noite, estoirado, ganhando à jorna, e tendo de dar à mãe metade, para pagamento das refeições.
Salinas, local de inferno, onde existiam reservatórios rectangulares, talhos, com água salgada do mar, que se evaporava, retendo o sal, que nela estava dissolvido. O trabalho era sazonal, todas as técnicas eram artesanais, com o aproveitamento da energia solar, com a acção do vento e o labor do salineiro. Na década 40, dependia-se do sal, principalmente para a conservação de alimentos (não tínhamos frigoríficos), mas não se valorizava o trabalhador. As diferentes tarefas, nas salinas, desenrolavam-se num clima diabólico,
O Bartolomeu transformou-me no seu porto de abrigo, era comigo que derramava toda a sua mágoa. Escutava-o, chorava com ele e mais tarde, quando ele fugiu, arrependi-me de não lhe ter proporcionado auxílio concreto. Os pais eram soberanos, o que impunham era para ser cumprido, não havia o hábito da contestação. Ainda falei com a minha mãe, ainda alvitrei uma sensibilização ao primo António, mas não resultou.
- Bartolomeu, desiste – disse-lhe um dia.
- Não.
Aguentou… até que desapareceu, nunca mais se soube dele.
Os pais regressaram à aldeia e morreram de tristeza!!...
Lina Vedes - 25 Março 2008