O LADRAR DO MERDOCK

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(em cima)


Não se assustem com o ladrar do Merdock.
Ele só embirra com polícias, guardas fiscais,
guardas republicanos e outras fardas!...



sábado, 28 de agosto de 2010

CARTÃO DE IDENTIDADE DO MERDOCK

Pela módica quantia de 2 escudos, o Merdock adquiriu a chapa de matrícula, para para ser colocada na coleira e poder circular, no país. 
Menos que um maço de tabaco que, creio, custava 29 tostões!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PEDAGOGIA

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Uma Professora de Liceu (anos 50)
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Como veio esta professora solteirona e já velha, parar ao Liceu Nacional de Faro?!
Apareceu, ficou efectiva e atribuíram-lhe o 2º ciclo das turmas femininas, com duas disciplinas – Francês e Português.
A entrada na sala de aula, no dia de estreia, avivou logo o nosso espírito crítico, mais instintivo que científico.
Após o 2º toque, enfiou pela sala, toda desengonçada, de perna aberta, parecendo mancar, apressada em direcção à secretária. Ao subir o estrado, quase tropeçou, e todo o tronco volumoso, estremeceu.
O peito e barriga formavam um bloco, sem cintura, mais parecendo uma montanha dividida pelo cós da saia.
A roupa usada revelava, pouca preocupação com o visual, cores discordantes, corte feito em casa, mais parecendo um “espantalho” vestido. Trazia uma malinha de mão com asa curta, e conforme andava a mala baloiçava para cá e para lá, ao ritmo da dona.
Não se sentou, jogou-se para a cadeira, arfando pelo esforço realizado.
Após um espaço, relativamente curto, que nos proporcionou uma observação mais atenta, diz:
- Sumário: Apresentação.
Saca da mala, abre-a, coloca-a em cima da secretária, pega no livro de ponto, tira dois pares de óculos, põe uns e começa a escrever… Acabada a tarefa, tira os óculos, coloca outros, levanta-se, apresenta-se e esclarece-nos sobre o programa de Francês.
Para ser simpática, convida-nos a dizer nomes portugueses, que ela diria, em francês. Surgiram imensos, como lápis, cabeça, caderno… até que, a Celma, a mais pequenita da sala, que vinha diariamente de Olhão, se levanta e diz:
- A propósito, como se diz pescoço em francês?
Foi como um raio a cair na sala de aula.
A professora dá um salto, toda trémula, agarra-se à Celma, aperta-a, sacode-a e grita desesperada, lançando chuveiro de cuspo para todos os lados:
- Vejam lá a maldade que está contida neste corpinho. Grande malandra, não tens vergonha?
Fez-se silêncio, toda a sala parada, a observar…
A aluna visada, branca como a cal…
Finalmente, a professora larga-a, vai para a secretária e senta-se com os braços caídos, ao longo do corpo.
Ficámos na expectativa e observantes!!!!!!!!!!
A cara, nada tinha de harmonioso, a boca enorme, de lábios finos, ao abri-la, mostrava toda a dentadura rala e saída para a frente. O queixo pegava com o pescoço, formando um papo que caía sobre peito, agora vermelho de excitação, revelando grandes veias azuis. Os olhos claros, que até deveriam ter sido bonitos, acumulavam, à volta, rugas da idade. A barba e o bigode, com aspecto descuidado por falta de esmero na depilação, mostravam pêlos soltos, uns grandes e outros pequenos, espetados. O cabelo, com pintura e permanente de caracóis pequeninos, feitos há algum tempo, apresentava-se encrespado e russo.
Tirámos, de imediato, o perfil de professora que nos tinha caído em sorte.
Daí em diante, não lhe demos mais tréguas. Aos poucos, fomos ganhando espaço, dominando a situação, abusando da sua fragilidade, numa caricatura, construída sobre o exagero das exigências comportamentais, das outras aulas.
Pobre dela, que sofreu situações incríveis, nas mãos de adolescentes insensíveis aos sentimentos, que viviam unicamente, à procura de diversão e protagonismo.
O ritmo de trabalho da professora, durante o tempo lectivo, era sempre o mesmo. Chegar, escrever no livro de ponto o sumário, verificar as faltas, dar matéria e fazer chamadas.
Escrevia no quadro a matéria dada, para nós copiarmos no caderno diário e a seguir iniciava, com o interrogatório, a duas ou três alunas, colocando-as, à sua volta, junto da secretária.
Este esquema facilitava as nossas brincadeiras. Enquanto a professora escrevia no quadro, valia tudo, desde jogar à batalha naval, às 5 pedrinhas (feitas com saquinhos cheios de arroz), a ir junto da secretária molhar a caneta (não existiam esferográficas), num desfile contínuo com roupas trocadas, sapatos ao contrário, passos de dança…
No tempo atribuído às chamadas, as “sacrificadas”, junto da professora, isolavam-na, por completo, do resto da turma.
Quando, o barulho ultrapassava, todos os limites, ela afastava as alunas, dava uma espreitadela, fazia-se um pouco de silêncio, e tudo regressava ao mesmo.
Pouco se aprendia nestas aulas e os interrogatórios levavam, aos chamados “esticanços”.
As alunas postas à prova, tanto a francês como português, levavam o livro, liam um pouco do texto, sujeitavam-se a perguntas de interpretação e a questões gramaticais.
Havia sempre, duas ou três colegas, que dominavam as matérias e se posicionavam, nas carteiras da frente, “bufando” as respostas. Como a professora era surda, não se apercebia, ou não se preocupava, porque a avaliação não era baseada nos conhecimentos, mas sim no comportamento.
Aluna considerada por ela, irrequieta, faladora ou abusadora, não tinha salvação. A classificação variava do Muito bom, Bom, Suficiente, Sofrível, Medíocre ao Mau e assim se recebiam as notas, consoante o grau de simpatia.
Todas as semanas tínhamos exercícios escritos e todos eles vinham com classificação idêntica.
Cheguei a entregar um exercício meu, com o nome da melhor aluna, no cabeçalho, e ser classificado com Bom. Ao verificar o engano, no acto da entrega, riscar e escrever, o fatídico Mau.
Uma outra vez, uma amiga de Bom, passou-me as perguntas, que copiei na íntegra. Como resultado final, surgiu Mau no meu e Bom no dela.
O barulho e desorganização, ultrapassavam os limites. Num dia de desorientação, levanta-se, coloca-se no meio do estrado, de pernas abertas, braços no ar e grita completamente perdida:
- Estou farta de fazer chô… chô…chô… e vocês não se calam!!!!!!!!!!!!!
Foi uma risada colectiva, sem fim. Nunca mais caiu em repetir, tal desabafo!
Lina Vedes – 18 de Fevereiro de 2008
Nota: - CARICATURA do PASSADO – professor de “poder absoluto”
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Para um futuro de qualidade, há 4 componentes essenciais.
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PAIS
– responsáveis, que transmitam aos filhos princípios de valores humanos, vontade de lutar e vencer na vida e que respeitem e dignifiquem os educadores (socialização e humanização)
PROFESSORES – empenhados, dignificados, justos, respeitados, trabalhando com alegria
ALUNOS – acima de tudo interessados e conscientes do papel da ESCOLA na sua formação integral
EDIFÍCIO escolar – com condições, organizado e atractivo

Para que a escola seja o nosso Futuro, tem de haver uma plataforma de entendimento baseada na cedência construtiva, desligada de interesses pessoais ou partidários (com o Ministério).
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Lina Vedes 

domingo, 8 de agosto de 2010

O MERDOCK EM PESSOA

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Na fotografia está o Merdock, no meio duma turma, creio que do 6ºano, em 1954. Veja-se o seu ar garboso e compenetrado, como que adivinhando que, 50 anos depois, haveria de pontificar na Internet e ser conhecido por gente de todo o mundo!
E isto é verdade. Têm vasculhado as páginas deste blog, brasileiros, americanos, holandeses, espanhóis, argentinos, suecos, australianos (só para citar alguns), e até chineses!
Bem. Os americanos devem andar à cata de petróleo ou a ver se descobrem o Bin Laden. Mas aqui não se safam… daqui não levam nada!
Já no que respeita aos chineses, talvez não seja muito para admirar. Podem ser de Macau. Tenho esperança de que o Pedro Vieira, engenheiro, por acaso natural de Faro, seja um deles. Vive aí há muitos anos e até casou com uma chinesa. Os restantes, bom… certamente que se enternecem com histórias de animais simpáticos, como nós.
Dos outros apenas reconheço o José Nascimento, engenheiro da EDP e presidente da Casa do Algarve em Almada, autor do prefácio do livro Merdock, um cão em Faro, nos anos 50. E o Picanço, dilecto amigo do Merdock, que foi professor e hoje é escultor de nomeada, na capital dos Algarves.

Há por aí quem reconheça os outros?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

CADERNOS COLONIAIS


Nos duros tempos do salazarismo, ainda nos anos 50, o Estado não se cansava de publicitar um país rico de colónias espalhadas pelo Mundo. Estes Cadernos Coloniais inseriam-se dentro dessa propaganda.
Merdock era um cão singular
e deu origem, em Faro,
a uma extraordinária
manifestação de solidariedade
que culminou na sua libertação.
Aqui se relembram
os factos e as personagens
envolvidas.
Veja também o meu blog de poesia