O LADRAR DO MERDOCK

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(em cima)


Não se assustem com o ladrar do Merdock.
Ele só embirra com polícias, guardas fiscais,
guardas republicanos e outras fardas!...



quarta-feira, 25 de março de 2009

ALEGORIAS PARA QUÊ?


OPINIÃO (1)

Embora não tenha sido aluno no liceu de Faro, nos últimos anos e na qualidade de sociólogo, dediquei tempo de estudo ao fenómeno q.b. Merdock e ao acto da sua libertação, precedida dos ingredentes determinantes da gesta estudantil. No subentendido fica que, a "geração espontânea" não é, normalmente, consequência da espontaneidade e tem sempre um justificativo geracional.
Defendi a tese Merdockiana num recente "fórum" em que participei, realizado na Biblioteca Municipal de Faro localizada onde, em tempos, se situava o canil do qual o Merdock foi libertado.
Esta conferência ocorreu aquando da comemoração do cinquentenário do memorável acto, tendo sido apresentado ao público a narrativa da saga do Merdock, "Merdock, um cão em Faro nos anos 50", da autoria de Vieira Calado.
Quer se goste ou não do que aconteceu em Fevereiro de 1954, de acordo com estudos preliminares, sendo prematuro na actual fase, ou mesmo excessivo, falar-se em Merdockologia, tratou-se de um fenómeno emergente, de natureza social, protagonizado por jovens liceais.
Tentar desvanecer ou obliterar a tendência libertadora desta acção, seria, no mínimo, uma investida redutora dessa mais valia Algarviana, que teve repercussões sentidas a nível Nacional, 20 anos depois, com o movimento do 25 de Abril, onde estiveram figuras liderantes originárias do Algarve.
Pelo princípio do contraditório, ainda hoje se fazem ouvir comentários de rua, que valem o que valem para quem os produz, tentando denegrir o quase-ícone Merdockiano ou até denegando a sua existência como símbolo da liberdade. E, isso afigura-se ser um grave atentado, em termos sociológicos.

M. Kanne (proto-Merdockólogo)

segunda-feira, 16 de março de 2009

APRESENTAÇÃO EM LAGOS

terça-feira, 10 de março de 2009

NEVE EM TODO O ALGARVE

Neve em Faro


Estávamos nos últimos dias de Janeiro de 1954, fazia um frio de “rachar”. Na subida para o Liceu, avenida a cima, enrolávamos o corpo nos casacos, abotoados até ao pescoço. Da boca saia “fumo” branco e o nariz gelava.
Para nós, jovens, era divertido transformar em brincadeira o rigor da invernia.
- Vamos todos a fumar para o Liceu!!!...
- O que dirá o reitor???...
Eu andava na explicação da Brites, que morava no Alto Rodes, para onde ia, de tarde, depois das aulas.
No dia 2 de Fevereiro, pela manhã, o frio era fora da normalidade, nem conseguíamos escrever, tão geladas tínhamos as mãos.
À tarde, quando saio da explicação, olho a rua e vejo-a toda branca e flocos a caírem do céu.
Era inédito, nunca tinha visto coisa igual, só no cinema…
É necessário salientar que na época, estudávamos a formação de neve, granizo, nevoeiros e outras coisas mais, mas tudo era teórico e as gravuras dos livros eram escassas e a preto e branco.
Entro de novo, vou até à sala das explicações e digo:
- D. Brites, parece que está a cair neve!!!...
- És parva ou quê? Neve? Impossível!!!...
Vou de novo para a porta da rua e fico extasiada com o espectáculo… Seria mesmo parva? Não queria arriscar outro adjectivo menos favorável…
Aguardei mais tempo, numa correcta observação, em pormenor, pus a mão de fora a aparar o que caia do céu, pus o pé no chão calcando o manto branco, abri os braços, já na rua, olhando o céu… Flocos de neve caiam-me no rosto, no corpo encasacado, entro de novo em casa e digo:
- Venham ver!!!
A D. Brites, que tinha a filhita pequena ao colo, sentada numa cadeira baixa, quase joga a moça ao chão e corre pelo corredor da casa, em direcção à rua. Atrás dela todos os explicandos, em procissão descompassada.
- Oh! Oh! Incrível!!...
Nenhum dos presentes tinha visto neve, nem os vizinhos, que já se tinham apercebido de algo extraordinário, e apareciam às portas, todos de “boca aberta”.
Começámos logo na brincadeira, raspando o chão com as mãos, fazendo bolas e jogando uns aos outros.
Finalmente, arranquei para casa, e no Largo do Carmo encontro a mãe que me ia buscar, ao ver a minha demora.
O piso estava tão escorregadio, que nos tínhamos de agarrar uma à outra. Foi uma risada até casa. A neve continuava caindo e até parecia, que o frio tinha quebrado.
O polícia sinaleiro, que estava de serviço na altura, era o Carlos, amigo da “pinga”, que tinha o hábito de dar escapadelas, até à tasca do Fontinhas, beber um copito. Na tasca, havia sempre, no balcão, um copo à sua espera. De fugida, no momento de menos trânsito, que ele controlava no Largo da Palmeira, ia até à tasca, emborcava o vinho sem respirar, e saia lambendo os beiços.
Nesse dia de Inverno, o sinaleiro Carlos cambaleava, no seu posto de trabalho, e pensámos que estaria “alegrote”.
Estávamos todos às portas de casa, divertidos, apreciando o espectáculo e reparando que o céu tinha uma tonalidade diferente do habitual, estava brilhante como prata…
A mãe presta mais atenção ao polícia, aproxima-se e pergunta-lhe se se sentia bem. O homem já não falava. Parado, no meio do largo, vestido com a farda de sinaleiro, coberto de neve, tinha gelado.
Trouxeram-no para minha casa, deram-lhe um copo de aguardente, limparam-lhe a neve, despiram-lhe o casaco dos galões, todo molhado e taparam-no com uma manta. A mãe telefonou para o posto e vieram buscá-lo.
No outro dia, a ida para o Liceu foi uma festa. A neve já não era fofa, era gelo escorregadio…
A meio da manhã, tínhamos, nesse dia, duas horas seguidas de aulas com a D. Loide Chumbo, Português e Francês. Ninguém conseguia concentrar-se nos trabalhos e menos ainda com esta professora, que não conseguia dominar as turmas.
Estávamos de pé, numa algazarra ensurdecedora e gritávamos às janelas da sala de aula.
Então, a Adelaide Costa, sai da sala sem que a professora se aperceba e regressa batendo à porta, com insistência. Silêncio absoluto, será o reitor, fizemos tanto barulho…
- D. Loide, há autorização para irmos brincar na neve, na rua – diz a Adelaide.
Ninguém soube o que disse a D. Loide. Saímos de roldão, corremos pelo corredor, descemos as escadas e saímos para a rua.
Foi um espaço de tempo maravilhoso… até aparecer o senhor Sortibão, muito enrascado a falar com a professora.
Voltámos para dentro e a D. Loide, levada pelo contínuo, foi directa à reitoria.
Sabemos, que ela andou “murcha” durante uns tempos…
Sabemos, que todo o Liceu sofreu de inveja, da turma feminina, que saíra à rua a brincar na neve…

Lina Vedes - 25 Janeiro 2008

quinta-feira, 5 de março de 2009

CRÓNICA

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“Moços e Moças do Algarve, estudantes nos Anos 50”
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Na sequência de outras crónicas, nomeadamente “As Três Flores de Amendoeira”, já publicadas, para a Galeria VIP, continuam a perfilar-se estórias deveras interessantes... Um dos estudantes elegíveis, foi aluno na Escola Comercial Tomás Cabreira.
Era um rapaz notoriamente sobredotado, oriundo de local próximo de Faro, que se deslocava diariamente para esta escola, onde se distinguia por ser diferente para melhor e por, nas aulas, prestar muita atenção aos ensinamentos ministrados.
Segundo diziam os liceais, estávamos, então, na época do Merdock, mais tarde apodada de Era.
Para quem não saiba, nesse tempo, ainda se falava no Reino do Algarve, sendo de referir que, desde há muito existiam cinco cidades, Faro incluída, quase todas relativamente próximas da orla marítima e, ainda, duas faixas orologicamente distintas vulgarmente denominadas como “barrocal” e “serra”. Daí vinham bastantes moças e moços interessados em melhorar o seu estatuto e cultura, abrindo novos horizontes para o seu futuro através da Escola ou do Liceu.
Alguns pelo seu valor e por mérito pessoal, granjearam lugar destacado na história do Algarve e até mesmo de Portugal.
Ainda se mencionava “o Reino”, porque no decreto que em 1910 proclamou e deu a conhecer a implantação da República, não foi referido o Algarve, mas também porque a moeda régia, até então cunhada, exibia explicitamente Rei de Portugal e dos Algarves (conceito que incluía esta região de beleza cativante e mais uns territórios conquistados à moirama).
Quanto ao rapaz, constava nesse tempo na Tomás Cabreira que, com aquele nível intelectual, postura jovial de lutador imparável e excelente aproveitamento nas aulas ministradas, quando fosse grande, poderia vir a ser Professor ou até Ministro e tornar-se por, mérito próprio, elegível a Presidente do Conselho de Ministros (designação usada nos anos 50) ou alcandorar-se a estatuto ainda mais prestigiante. E, este colega, quando elogiado, sorria com um ar enigmático mas intensamente premonitório.
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Autor: Beto de Estoi

P.S. – Como é de bom tom, o nome deste ex-aluno da Tomás Cabreira, só poderá ser revelado mediante autorização.
Merdock era um cão singular
e deu origem, em Faro,
a uma extraordinária
manifestação de solidariedade
que culminou na sua libertação.
Aqui se relembram
os factos e as personagens
envolvidas.
Veja também o meu blog de poesia