Sensibilizado pela abordagem que tem sido feita à Saga do Merdock, vou tentar, por este meio, contribuir com a minha avaliação da atitude do grupo estudantil do qual eu, então, fazia parte.
No ano lectivo de 1953/54, o ambiente no interior do Liceu de Faro era de clausura e de austeridade mas, no exterior o clima, a luminosidade do céu, a paisagem, as flores emanavam vitalidade e convidavam a viver alegremente.
Afinal, estávamos no Algarve onde a natureza envolvente e as pessoas irradiam essa reconhecida forma de estar.
Traduz-se num constante apelo à liberdade, ao qual os jovens sempre foram sensíveis, sem confundir com a irreverência ou a libertinagem que, infelizmente, hoje abunda por aí.
Curiosamente, no liceu e nessa época remota, entre outros saberes também ensinavam a marcar passo, o canto e o coral, o amor ao próximo e o respeito pelos valores de cidadania.
Penso que, para além do português e da filosofia, da física ou da matemática, os alunos e alunas do liceu acompanhados por outros jovens da cidade, que aderiram entusiasticamente ao cortejo que descia a avenida cidade adentro, naquele dia, utilizaram os saberes apropriados à libertação de um simples rafeiro que se revelara ser amigo dos estudantes.
Corajosamente marcharam pela avenida e demais ruas da cidade até ao município, cantaram e gritaram pela liberdade do amigo, revelaram amor por aquele que nunca lhes negou um abanar de cauda, conseguiram legitimar a existência de um ser vivo aprisionado.
Este foi o gesto assumido por muitos jovens, aplaudido por muitos cidadãos que também ansiavam por alguma liberdade e observado por outros que, sem ousar manifestar-se,temiam pela perda de estatuto ou de privilégios adquiridos.
A imprensa cuidou de relevar a atitude estudantil.
A autoridade estabelecida tentou perceber o que se estava a passar.
Na minha opinião, este terá sido um grito de alerta para a liberdade, em nome do Merdock, que concedeu naquele tempo aos estudantes mais regozijo do que, então, poderia ser imaginado pelos seus tutores.
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V. A.
4 comentários:
Jornais nacionais ou algarvios? Seria interessante saber o que disseram.
Os periódicos do Algarve de então, referiram-se ao assunto, segundo alguns amigos desse tempo. Mas ningém que eu conheça, tem os recortes. Seria necessário procurar os arquivos dos jornais da região.
Mas a seu tempo, divulgamos recortes do Diário Popular, 1º de Janeiro e Os Ridículos.
Há muito que não vinha por aqui. Pensava que este blogue estava parado. Hoje entrei e vejo que afinal o Merdock voltou.
Um abraço e bom fim de semana
Ao voltar mais uma vez a este espaço, ganho coragem para perguntar se a História do Merdock aos quadradinhos,acabou. Quando venho à procura da continuação, mantém-se no capítulo 6, que termina com a entrada triunfal no liceu; parece um final, mas...
Cumprimentos
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