A alma dos anos 50
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Gostaria de ter «estudos» para fazer uma análise científica à alma dos jovens da década 50.
Olho para o passado e vejo-me, com nitidez, de bata branca caminhando para as aulas, brincando no recreio ao "mata", às 5 pedrinhas, ao manecas, à corda…
A cor da fita, na bata, ia mudando e eu acompanhava essa mudança perdendo o interesse pelos jogos tradicionais e passando a minha atenção para o recreio dos rapazes. Quantos olhares, quantos sorrisos, sinais inofensivos de uma juventude travada pelas exigências da época!!!
Vivíamos numa célula familiar excessivamente controladora. Frequentávamos um estabelecimento escolar que nos espartilhava ainda mais.
Nós sobrevivíamos utilizando pequenos truques, jogos inventados, que procuravam compensar-nos das injustas repressões.
Vivia-se assim.
Não havia hipótese de fuga. Quem tentasse era apontado e quem fugisse era banido pela sociedade da época.
Lembro-me da minha ingenuidade, de aceitar o que me impunham sem revolta exterior. Afogava com brincadeiras de raparigas o desgosto de não ser rapaz para ser livre.
Agora, que vivo no futuro do meu passado compreendo que os nossos educadores tinham como objectivo, quase único, «preparar-nos para a vida».
Eram rigorosos para nosso bem.
A vida deles não tinha sido fácil, tinham subido a pulso e com sacrifícios extremos. Queriam poupar-nos desse sofrimento obrigando-nos a construir a nossa vida, a nossa independência, só possível através de um curso.
Na preparação do encontro de Outubro, tenho ido ao nosso Liceu (hoje Escola João de Deus) com frequência.
Na biblioteca, com o espaço físico todo modificado, tive acesso aos relatórios anuais feitos pelo nosso Reitor.
Aquela figura austera que, sem palavras, impunha respeito mostra, nesses relatórios, uma faceta de rigor organizativo, na ânsia do dever cumprido em benefício da comunidade escolar.
Ao lê-los, em certas passagens, deixei que uma lágrima me escorresse pela cara e acreditei plenamente:
- Afinal ele amava-nos!
LINA VEDES
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Gostaria de ter «estudos» para fazer uma análise científica à alma dos jovens da década 50.
Olho para o passado e vejo-me, com nitidez, de bata branca caminhando para as aulas, brincando no recreio ao "mata", às 5 pedrinhas, ao manecas, à corda…
A cor da fita, na bata, ia mudando e eu acompanhava essa mudança perdendo o interesse pelos jogos tradicionais e passando a minha atenção para o recreio dos rapazes. Quantos olhares, quantos sorrisos, sinais inofensivos de uma juventude travada pelas exigências da época!!!
Vivíamos numa célula familiar excessivamente controladora. Frequentávamos um estabelecimento escolar que nos espartilhava ainda mais.
Nós sobrevivíamos utilizando pequenos truques, jogos inventados, que procuravam compensar-nos das injustas repressões.
Vivia-se assim.
Não havia hipótese de fuga. Quem tentasse era apontado e quem fugisse era banido pela sociedade da época.
Lembro-me da minha ingenuidade, de aceitar o que me impunham sem revolta exterior. Afogava com brincadeiras de raparigas o desgosto de não ser rapaz para ser livre.
Agora, que vivo no futuro do meu passado compreendo que os nossos educadores tinham como objectivo, quase único, «preparar-nos para a vida».
Eram rigorosos para nosso bem.
A vida deles não tinha sido fácil, tinham subido a pulso e com sacrifícios extremos. Queriam poupar-nos desse sofrimento obrigando-nos a construir a nossa vida, a nossa independência, só possível através de um curso.
Na preparação do encontro de Outubro, tenho ido ao nosso Liceu (hoje Escola João de Deus) com frequência.
Na biblioteca, com o espaço físico todo modificado, tive acesso aos relatórios anuais feitos pelo nosso Reitor.
Aquela figura austera que, sem palavras, impunha respeito mostra, nesses relatórios, uma faceta de rigor organizativo, na ânsia do dever cumprido em benefício da comunidade escolar.
Ao lê-los, em certas passagens, deixei que uma lágrima me escorresse pela cara e acreditei plenamente:
- Afinal ele amava-nos!
LINA VEDES
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O encontro de Outubro, a que a Lina se refere, é o almoço de confraternização de antigos alunos da década de 50, que se realiza no dia 6 de Outubro no restaurante Quintas dos Avós, em S. Brás de Alportel. V. C.
13 comentários:
Gostei muito daquilo que li!
Fiquei a pensar nas diferenças e semelhanças entre o recreios dos anos 50 e os recreios de hoje...
Fiquei a pensar no reitor que "afinal" amava os seus alunos...
Fiquei preocupado. (Por ouvir certas conversas de professores) tenho medo que daqui a 50 anos, ao ler relatórios de um Presidente de Conselho Executivo, alguém exclame: "Afinal ele temia-nos!"
Porque será que é tão difícil educar?
uma vez mais muito interessante o que por aqui se lê...
Lina - É bonito ser sentimental. Mas,
os objectivos do "tipo de educadores"
com que nos confrontámos, não serão
descodificáveis e nem sempre eram tão
meritórios (tal como queriam parecer)
No tempo actual, a "responsável" pela
Educação também afirma que ama todos
os nossos netos e o que faz é para o
seu bem. O sentimento e os juízos de
valor, por vezes não se conciliam.
Ah! Tinha-me esquecido de falar na Sra Ministra da Educação... que constantemente incentiva os professores a não amarem a sua profissão, e os alunos e encarregados de Educação a não terem respeito e admiração pelos seus professores (que tantas vezes trabalham com escassos meios).
Qualquer professor que maltrate e desrespeite um aluno, deve ser punido! Isso não é desculpável!
Mas é preciso ter em atenção que AINDA há muitos professores dedicados que amam a sua profissão e os seus alunos.
Lina, este meu discurso demasiado empolgado só foi possível porque gostei muito do seu texto!
E parece que resultou... a julgar pela amostra formaram bons pensadores.
Formaram-se bons pensadores, porque
a matéria prima era boa e conseguiu reagir ao método repressivo vigente. Hoje afirmo que Educação
e Amor, recebi verdadeiramente dos
meus pais. Mais tarde, confrontado com outros métodos verdadeiramente educativos, entendi o logro e a
razão da falência daquele sistema.
Outros não terão tido esta mesma
oportunidade. Gosto de ler versões
diferentes e consigo respeitá-las
no presente contexto. No entanto, a
ânsia de liberdade e a saga do Merdock continuam a reproduzir a
vivência da maioria dos jóvens nos
anos 50.
O meu comentário vai para os actores dos últimas comentários e, naturalmente, para a Lina (que também não conheço pessoalmente, mas que produziu um excelente post):
Apreciei umas e outras opiniões, tanto mais que vejo que elas não pretendem ganhar nada, por exemplo votos, ou mais valias em acções.
São genuínas, e isso basta-me.
O meu obrigado, pois assim é que eu quero este país: gente desprovida, séria nas suas convicções, dialéctica, prafrentex.
Adorei este post! As diferenças e também as semelhanças. ;)
Nice - Adorei o seu comentário, tendo
em atenção as diferenças mas, também,
tendo em especial consideração, as
inquietantes "semelhanças".
Ana, tenho a felicidade de ter estes excentes colaboradores.
Um abraço
Gostei muito , Lina! Podes continuar a colaborar neste blog mas aconselho-te a que fa�as um s� teu.
Passarei regularmente, com muito gosto. Daqui, de muito perto da Quinta dos Av�s,onde se realizar� o almo�o, envio-te beijinhos. Eu frequentei o liceu nas d�cadas de 60/70.
Mas estarei convosco.
Isabel, terei muito gosto em conhecê-la.
Também espero lá estar.
Bacana esse teu post! O blogue todo, na verdade. Retribuí a visita e gostei.
Abraço
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